domingo, 15 de abril de 2012

05.01. Comunicabilidade dos Espíritos - Casos



05.01


MÓDULO V: Comunicabilidade dos Espíritos
ROTEIRO 1: Influência dos Espíritos em nossos pensamentos e atos, e nos acontecimentos da vida.

CASO 01
Quando reencontrei o meu amigo Custódio Saquarema na Vida Espiritual, depois da efusão afetiva de companheiros separados desde muito, a conversa se dirigiu naturalmente para comentários em torno da nova situação.
Sabia Custódio pertencente à família espírita e, decerto, nessa condição, teria ele retirado o máximo de vantagens da existência que vinha de largar. Pensando nisso, arrisquei uma pergunta, na expectativa de sabê-lo com excelente bagagem para o ingresso em estâncias Superiores. Saquarema, contudo, sorriu de modo vago, e informou com a fina autocrítica que eu lhe conhecia no mundo:
- Ora, meu caro, você não avalia o que seja uma, obsessão disfarçada, sem qualquer mostra exterior. A Terra me devolveu para cá, na velha base do "ganhou mas não levou ". Ajuntei muita consideração e muito dinheiro; no entanto, retorno muito mais pobre do que quando parti, no rumo da reencarnação...
Percebendo que não me dispunha a interrompê-lo, continuou:
-Você não ignora que renasci num lar espírita, mas, como sucede à maioria dos reencarnados, trazia comigo, jungidos ao meu clima psíquico, alguns sócios de vícios e extravagâncias do passado, que, sem o veículo de carne, se valiam de mim para se vincularem as sensações do plano terrestre, qual se eu fora uma vaca, habilitada a cooperar na alimentação e condução de pequena família... Creia que, de minha parte, havia retomado a charrua (a agricultura, o campo) física, levando excelente programa de trabalho que, se atendido, me asseguraria precioso avanço para as vanguardas da luz. Entretanto, meus vampirizadores (extrair energia, esforço, etc. de (alguém), à maneira de vampiro), ardilosos e inteligentes, agiam à socapa (com disfarce; à sorrelfa; furtivamente), sem que eu, nem de leve, Ihes pressentisse a influência...
- E sabe como?
- ?...
- Através de simples considerações íntimas prosseguiu Saquarema, desapontado.
- Tão logo me vi saído da adolescência, com boa dose de raciocínios lógicos na cabeça, os Instrutores amigos me exortaram, por meus pais, a cultivar o reino do espírito, referindo-se a estudo, a abnegação, aprimoramento, mas, dentro de mim, as vozes de meus acompanhantes surgiam da mente, como fios d’água fluindo de minadouro, propiciando-me a falsa idéia de que eu falava comigo mesmo:
- Coisas da alma, Custódio?
 - Nada disso.
- A sua hora é de juventude, alegria, sol... Deixe a filosofia para depois...
Decorrido algum tempo, bacharelei-me.
As advertências do lar se fizeram mais altas, conclamando-me ao dever, entretanto, os meus seguidores, até então invisíveis para min, revidavam também com a zombaria inarticulada:
- Agora? Não é ocasião oportuna. De que maneira harmonizar a carreira iniciante com assuntos de religião? Custódio, Custódio!... Observe o critério das maiorias, não se faça de louco!...”. Casei-me e, logo após, os chamados à espiritualização recrudesceram, em torno de mim. Meus solertes (diz-se de pessoa sagaz, manhosa ou velhaca) exploradores, porém, comentaram, vivazes: " Não ceda, Custódio ! E as responsabilidades de família? Preciso trabalhar, ganhar dinheiro, obter posição, zelar por mulher e filhos...". A morte subtraiu-me os pais eu, advogado e financista, já na idade madura, ainda ouvia os Bons Espíritos, por intermédio de companheiros dedicados, requisitando-me à elevação moral pela execução dos compromissos assumidos; todavia, na casa interna se empoleiravam os argumentos de meus obsessores inflexíveis:
- " Custódio, você tem mais quefazeres (ocupações, faina, negócios; afazeres).
- Como diminuir os negócios?
- E a vida social?
- Pense vida social...
- Você não esta preparado para seara (extensão de terra semeada, cultivada, agremiação, associação, partido.) fé....
Em seguida, meu amigo, chegaram a velhice e doença, essas duas enfermeiras da alma, que vivem de mãos dadas na Terra. Passei a sofrer e desencantar-me. Alguns raros visitantes de minha senectude (decrepitude, senilidade, velhice; senescência), transmitindo -me os derradeiros convites da Espiritualidade Maior, insistiam comigo, esperando que eu me consagrasse às coisas sagradas da alma; no entanto; dessa vez, os gritos de meus antigos vampirizadores se altearam, mais irônicos, assoprando-me sarcasmo, qual se fora eu mesmo ridicularizar-me:
- Você, velho Custódio?!
- Que vai fazer você com Espiritismo?
- É tarde demais...
- Profissão, fé, mensagens de outro mundo...
- Que se dirá de você meu velho?
- Seus melhores amigos falarão em loucura senilidade...
- Não tenha dúvida...
- Seus próprios filhos interditarão você, como sendo um doente mental, Inapto à regência de qualquer interesse econômico...
- Você não. está mais no tempo disso..
Saquarema endereçou-me significativo olhar e rematou:
- Os meus perseguidores não me seviciaram (maltraram) o corpo, nem me conturbaram a mente. Acalentaram apenas o meu comodismo e, com isso, me impediram qualquer passo renovador. Volto da Terra, meu caro, imitando lavrador endividado e de mãos vazias que regressa de um campo fértil, onde poderia ter amealhado (diz-se de dinheiro poupado. repartido ou dado em pequenas parcelas, porções ou mealhas)  inimagináveis tesouros... Sei que você ainda escreve para os homens, nossos irmãos. Conte-lhes minha pobre experiência, refira-se, junto deles, à obsessão pacífica, perigosa, mascarada... Diga-lhes alguma coisa acerca do valor tempo, da grandeza potencial de qualquer tempo na romagem (romaria) humana!...
Abracei Saquarema, de esperança voltada para tempos novos, prometendo atender-lhe a solicitação. E aqui lhe transcrevo o ensinamento pessoal, que poderá servir a muita gente, embora guarde a certeza de que, se andasse agora reencarnado na Terra e recebesse de alguém semelhante lição, talvez estivesse muito pouco inclinado a aproveitá-la.
XAVIER, Francisco Cândido. Obsessão pacífica - In: _. Cartas e crônicas. Ditadas pelo Espirito Irmão X. 4 ed. Rio de janeiro, FEB,19. p. 38-42.


MÓDULO V: Comunicabilidade dos Espíritos
ROTEIRO 1: Influência dos Espíritos em nossos pensamentos e atos, e nos acontecimentos da vida.
CASO 02
Marques, o ex-presidente do templo espírita, falava ao companheiro:
- Teremos assembléia geral depois de amanhã e estou colecionando os documentos. Veremos quem pode mais. Desmoralizarei os mandriões (Indivíduo preguiçoso, madraço, mandrana).
E Osório, o amigo fiel, ponderava:
- Mais calma. O senhor foi presidente por muitos anos. Sempre respeitado. Sempre querido. Recordemos nossas reuniões. Nosso Dias da Cruz, que o senhor conheceu tão bem quando neste mundo, prometeu ajudá-lo até o fim...
- Sei que estou protegido — dizia Marques, beliscando, nervoso, a barba branca, mas vou colocar a coisa em pratos limpos. A diretoria foi tomada de assalto. É muita gente querendo transformar a casa em gamela (vasilha de madeira ou de barro, com a forma de alguidar ou de escudela grande) gorda.
- Marques, a ironia é veneno.
-Tenho fotocópias, retratos, informações e muito: papel importante para mostrar o passado desses oportunistas, Todo o material será exibido na assembléia. Alguns desses companheiros transviados são passíveis de xadrez.
- Medite Marques, medite! - pedia Osório - O que passou, passou... Agitar o fundo de um poço é fazer lama. Ore. Peça o amparo do Alto
E, a convite do amigo, os dois se puseram em prece, rogando proteção espiritual.
Em seguida, tornaram à casa de Marques, onde Osório observaria como adoçar (abrandar, suavizar) o calhamaço (livro ou caderno volumoso, ou antigo, ou velho).
Ao procurar o libelo escrito, o dono da casa ouviu da arrumadeira, que entrara na véspera, estranha explicação:
- Senhor Marques, todos os papéis que o senhor deixou espalhados nas cadeiras, com retratos e jornais velhos, eu entreguei ao lixeiro, quando caminhão da Prefeitura por aqui passou.
- Meu Deus! - gritou o velhinho, entrelaçando as mãos na cabeça, ante Osório sorridente - era serviço de oito meses!
E a jovem inexperiente replicou, sem saber que fazia a definição moral:
- Mas era muita sujeira! . . .
XAVIER, Francisco Cândido Waldo. Proteção espiritual, In: . Almas em Desfile. Ditado pelo Espírito Hilário Silva. 3 ed. Rio de Janeiro, FEB, 1977. p.32-33 

MÓDULO V: Comunicabilidade dos Espíritos
ROTEIRO 1: Influência dos Espíritos em nossos pensamentos e atos, e nos acontecimentos da vida.
CASO 03
Centralizando-se a palestra no estudo das tentações, contou Jesus, sorridente:
- Um valoroso servidor do Pai movimentava-se, galhardamente, em populosa cidade de pecadores, com tamanho devotamento à fé e à caridade, que os Espíritos do mal se impacientaram em contemplando tanta abnegação e desprendimento. Depois de lha armarem os mais perigosos laços, sem resultado, enviaram um representante ao Gênio das Trevas, a fim de ouvi-lo a respeito.
Um companheiro de consciência enrijecida recebeu a incumbência e partiu.
O Grande Adversário escutou o caso, atenciosamente, e recomendou ao Diabo Menor que apresentasse sugestões.
O subordinado falou, com ênfase:
Não poderíamos despojá-lo de todos os bens? Isto, não - disse o perverso orientador - ; para um servo dessa têmpera, a perda dos recursos materiais é libertação. Encontraria, assim, mil meios diferentes para aumentar suas contribuições à Humanidade.
- Então, castigar-lhe-emos a família, dispersando-a e constrangendo-Ihe os filhos a enchê-lo de opróbrio (afronta infamante; injúria) e ingratidão...  - aventou o pequeno perturbador, reticencioso.
O perseguidor maior, no entanto, emitiu gargalhada franca e objetou:
- Não vês que, desse modo, se integraria facilmente com a família total que é a multidão?
O embaixador, desapontado, acentuou:
- Será talvez conveniente lhe flagelemos o corpo; crive-lo-emos (encher, cobrir, traspassado) de feridas e aflições.
- Nada disto - acrescentou o gênio satânico -, ele acharia meios de afervorar-se (excitar o fervor, o ardor de; estimular, aferventar) na confiança e aproveitaria o ensejo para provocar a renovação íntima de muita gente, pelo exercício da paciência e da serenidade na dor.
- Movimentaremos a calúnia, a suspeita e o ódio gratuito dos outros contra ele! - clamou o emissário.
- Para quê? - tornou o Espírito das Sombras.
- Transformar-se-ia num mártir, redentor de muitos. Valer-se-á de toda perseguição para melhor engrandecer-se, diante do Céu.
Exasperado, agora, o demônio menor aduziu:
- Será, enfim, mais aconselhável que o assassinemos sem piedade...
Que dizes? - redargüiu a Inteligência perversa. - A morte ser-lhe-ia a mais doce benção, por conduzi-lo as claridades do Paraíso.
E vendo que o aprendiz vencido se calava, humilde, o Adversário Maior fez expressivo movimento de olhos e aconselhou, loquaz (falador, palrador; palavroso, verboso):
- Não sejas tolo. Volta e dize a esse homem que ele é um zero na Criação, que não passa de mesquinho verme desconhecido... Impõe-lhe o conhecimento da própria pequenez, a fim de que jamais se engrandeça, e veras...
O enviado regressou satisfeito e pôs em prática o método recebido.
Rodeou o valente servidor com pensamentos de desvalia, acerca de sua pretendida insignificância, e desfechou-lhe perguntas mentais como estas:
- "Como te atreves a admitir algum valor em tuas obras destinadas ao pó? não te sentes simples joguete de paixões inferiores. da carne? não te envergonhas da animalidade que trazes no ser? Que pode um grão de areia perdido no deserto? não te reconheces na posição de obscuro fragmento de lama?"
O valoroso colaborador interrompeu as atividades que lhe diziam respeito e, depois de escutar longamente as perigosas insinuações, olvidou (não se lembrar; esquecer-se) que a oliveira frondosa começa no grelo frágil, e deitou-se, desalentado, no leito do desânimo e da humilhação, para despertar somente na hora em que a morte lhe descortinava o infinito da vida -. ·
Silenciou Jesus, contemplando a noite calma..;
Simão Pedro pronunciou uma prece sentida e os apóstolos, em companhia dos demais, se despediram, nessa noite, cismarentos (Meditativo, pensativo, sonhador) e espantadiços (que se espanta facilmente; arisco).
NEIO LÚCIO.
XAVIER, Francisco Cândido. O poder das trevas. In: . Idéias e ilustrações. diversos Espíritos 2. ed. Rio de janeiro, FEB, 1978. p. 111-113.